A Literatura Digitalizada

A Ascensão dos Booktubers, Instabooks e BookTok

Entre a Paixão pela Leitura e o Comércio de Seguidores

Por Alan Carlos rosa

Nos últimos anos, a interação entre leitores e a literatura passou por uma revolução digital. Plataformas como YouTube, Instagram e TikTok tornaram-se verdadeiros palcos para a disseminação de conteúdo literário, onde os chamados booktubers, instabooks e, mais recentemente, os criadores do BookTok têm exercido uma influência crescente. Inicialmente, esses espaços eram dominados por entusiastas que compartilhavam suas paixões literárias, discutiam obras e criavam comunidades em torno de gostos comuns. No entanto, com a profissionalização e a monetização desses canais, surgiu uma crítica pertinente: até que ponto a literatura continua sendo uma questão de paixão e não de comércio?.

Foto de Александр Лич


Os booktubers, instabooks e BookTokkers, com milhares e, em alguns casos, milhões de seguidores, passaram a ser vistos como poderosos influenciadores. Essa visibilidade atraiu as editoras, que enxergaram neles uma oportunidade de ouro para promover livros de maneira mais direta e eficiente do que os métodos tradicionais de marketing. Não há dúvidas de que essa parceria pode ser benéfica, ampliando o alcance de novos autores e obras que, de outra forma, poderiam passar despercebidos. No entanto, o risco inerente a essa prática é a transformação da literatura em um produto meramente comercial, onde a qualidade e o valor literário podem ser preteridos em favor de estratégias de marketing.

O problema se agrava quando consideramos que muitos desses influenciadores literários começam a selecionar livros não com base em seus méritos, mas sim em acordos financeiros. A curadoria de conteúdos deixa de ser um ato de paixão pela leitura e passa a ser uma escolha comercial. Livros promovidos em troca de pagamento ou parcerias podem não refletir a verdadeira opinião do influenciador, comprometendo a autenticidade das recomendações. Isso cria um cenário onde a credibilidade desses canais pode ser posta em dúvida, e os seguidores, ao perceberem a dinâmica comercial, podem se sentir traídos.

Foto de Koshevaya_k


Além disso, a pressão para gerar conteúdo constante e atrativo pode levar a uma superficialização das análises literárias. Em vez de discussões aprofundadas e críticas bem fundamentadas, o que muitas vezes vemos são resenhas apressadas e superficiais, que pouco contribuem para a apreciação crítica da obra. A necessidade de manter um fluxo contínuo de postagens pode desestimular leituras mais complexas e demoradas, favorecendo obras mais leves e de fácil digestão, que podem ser consumidas rapidamente.

É importante, portanto, que tanto os influenciadores quanto os seus seguidores estejam conscientes dessa dinâmica. Os booktubers, instabooks e BookTokkers precisam manter um equilíbrio entre a monetização de seu trabalho e a integridade de suas recomendações. Transparência é a chave para manter a confiança do público: indicar claramente quando uma resenha é patrocinada e buscar sempre avaliar honestamente as obras apresentadas.

Para os leitores e seguidores, cabe um papel crítico e atento. Consumir conteúdo de diversos influenciadores, comparar opiniões e não aceitar passivamente todas as recomendações são atitudes que ajudam a formar uma visão mais independente e menos sujeita a manipulações comerciais.


Em última análise, a literatura nas redes sociais é um fenômeno que ainda está em evolução. Se bem conduzido, tem o potencial de democratizar o acesso à leitura e fomentar o debate literário em escala global. No entanto, é essencial que não percamos de vista o que realmente importa: a literatura deve ser uma expressão de paixão e conhecimento, e não apenas uma mercadoria a ser vendida ao maior número de seguidores. A integridade dos influenciadores literários e a consciência crítica dos seguidores são fundamentais para preservar a essência da leitura em meio às dinâmicas comerciais das redes sociais.


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